26/12/2014

Res Scriptae - Pais e Filhos


Havia nações em que era costume os filhos matarem os pais e outras nas quais os pais matavam os filhos, para evitarem os inconvenientes que um dia poderiam causar uns aos outros, pois, por natureza, a prosperidade de um depende da ruína do outro. Havia filósofos – como testemunha Aristipo – que desdenhavam deste laço natural. Quando alguém insistia na afeição que um pai em particular devia aos seus filhos, uma vez que eles tinham vindo de si, ele começava a cuspir, dizendo que aquilo também tinha vindo dele, e que nós também criamos piolhos e vermes. E havia aquele outro que Plutarco tentou reconciliar com o seu irmão. ‘Eu não tenho de gostar mais dele’, dizia ele, ‘por ter saído do mesmo buraco que eu’.

tirado de “Sobre a Amizade”, Michel de Montaigne



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